sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A mulher, a menina e o gatinho





Em alguns ônibus é comum se ter pelo menos um assento para idosos, aquele que é único e que fica de frente para todos, lá do lado do cobrador. Num desses bancos estava sentada uma moça aparentando ter uns vinte e cinco anos. Cabelos assanhados. Com sua filha e com um gato dentro de uma caixa de sapato no seu colo que a impedia de ser vaidosa, talvez a vida já a impedisse por si só. Com uma mão ela segurava a menina e com o antebraço agarrava a caixa. Apenas seus pés para equilibra-los quando o ônibus de supetão dava daquelas curvas de esparramar as batatas de uma sacola de feira. A moça oscilava em sorriso e uma cara fechada. Parecia programado. Ela sorria todas as vezes que a menina a olhava nos olhos. Enquanto não se olhavam, seu semblante era sério. A criança tentava colocar a mão pra fora pela janela do ônibus e a mãe puxava de volta. Ela teimosa largava da janela e apertava a calda do gato, a mãe reclamava mais uma vez. A menina dava um sorriso sapeca olhando para os passageiros, se exibindo, e a mãe baixava a cabeça e sorria timidamente.
A mãe, às vezes parecia preocupada com alguma coisa, em alguns momentos a menina brincava com o gato como um brinquedo e a mãe parecia estar bem longe. Como ela não reclamou, a menina deixou o bichano em paz. Tentando mais uma vez chamar a atenção de sua mãe, a menina tenta escorregar por entre seus braços. A mãe a puxa de volta. – Fique quieta! – Ela não faz nenhum som, mas dá pra ler em seus lábios. Ela é tímida e tenta ser discreta. Enquanto mãe e filha dialogam com o olhar, o gatinho tenta fugir da caixa. Ele sobe na borda direita, o ônibus dobra a esquina, ele escorrega e volta a tentar do lado esquerdo. Quando vai conseguindo sair, a mãe puxa-o pra dentro novamente. A menina agora parece ter se acalmado e fica contando moranguinhos estampados em seu pijama enquanto sua mãe fica pensativa e o gatinho descansa na caixa. Quando estou prestes a descer do ônibus, como um presente eu ganho uma imagem linda que não consigo esquecer, e é como se eu pudesse ver quando eu quero. A mãe, a criança e o gato, olham quase que de forma sincronizada para a mesma direção, para o fundo do ônibus, em uma linha quase reta. Os olhos da mãe em cima, os da menina paralelamente abaixo e os do gato caprichosamente na mesma linha. Todos parecem ver um homem que trabalhava na construção de um prédio no centro da cidade, com uma roupa impecavelmente branca, calça e camisa de mangas longas. De diferente, apenas um capacete de obra quebrado na cabeça, e um sorriso que eu mesmo criei na minha mente pra não ficar tão triste e que acabou fazendo parte desse quadro que acabo de pintar, ninguém vê, mais ele está lá pintado. Esse era um homem trabalhador e honesto que vivia pra sustentar sua família. A mulher, a menina e o gatinho. 



Por:  Erik Kleiver