quarta-feira, 3 de abril de 2013

Triste Ratatouille




Triste Ratatouille

Enquanto estou aqui assistindo um jogo de futebol na TV, tem um ratinho morrendo asfixiado dentro de uma sacola plástica no lixeiro do banheiro. Mas que trágico, penso, começar uma crônica com uma situação como essa.  É nada, penso de novo, tentando me convencer que isso é algo normal que acontece em toda casa, mas que no fundo eu sinto que pra mim não é. Mas deixa assim, tento me convencer. Afinal, isso parece ser uma situação tão desprezível. Continuemos então. Ainda me atrevo a chamar de maneira carinhosa, o ratinho.  E só pra frisar, entre os comentaristas do jogo, Barcelona e Paris Saint Germain, estava Michel Teló. Achei importante destacar. Mas voltando ao pequeno acontecimento. Fui até a cozinha, lá vi minha cadela, Jude, brincando com um rato. Jude brincava, mas para o rato parecia ser daquelas brincadeiras chatas que machucam. Ele ia atravessar a cozinha, por azar não deu tempo de chegar debaixo do fogão. Desde ontem percebi que Jude estava à espreita, então de hoje parece não ter passado.  Espantei Jude e me aproximei do bichinho. Era tão pequeno, longe do buraco da parede, longe da mãe, dos irmãos. Sua respiração era nervosa e frenética, suas patas traseiras tremiam. Toquei-o com uma garrafa plástica e ele pareceu empurrá-la. “ Que brincadeira sem graça, agora me deixe pelo menos morrer em paz”, pareceu dizer. Senti dó  e o empurrei para debaixo do fogão. Se ele não estivesse fingindo estar morto pensando em fugir logo que eu e Jude déssemos as costas, pelo menos iria morrer em paz, talvez. Enquanto isso, Jude me olhava nos olhos, “ Me deixa brincar só mais um pouco”. Não Jude ! Voltei para a sala, o jogo ainda estava passando. Ouvi um barulho vindo da cozinha, fui até lá. Estava o pobre ratinho preso debaixo de uma vassoura. Ele ia voltar,mesmo todo machucado,  para casa, pelo mesmo caminho, pela cozinha, e minha mãe o pegou.  Falei que Jude estava querendo matar ele e que ele fugiu para debaixo do fogão. Minha mãe pegou uma sacola plástica. – Você vai fazer o que¿ - Perguntei – E você quer que eu faça o que¿ - Ela responde. Não sei, apenas penso, e fico calado. Se vai fazer isso, mata logo – Volto a falar – Eu não – Ela diz -, mata tu!  Tenho coragem não, apenas penso novamente, e continuo calado. Então não preciso continuar a crônica, já que o final você já conhece. 




Por Erik Kleiver

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A mulher, a menina e o gatinho





Em alguns ônibus é comum se ter pelo menos um assento para idosos, aquele que é único e que fica de frente para todos, lá do lado do cobrador. Num desses bancos estava sentada uma moça aparentando ter uns vinte e cinco anos. Cabelos assanhados. Com sua filha e com um gato dentro de uma caixa de sapato no seu colo que a impedia de ser vaidosa, talvez a vida já a impedisse por si só. Com uma mão ela segurava a menina e com o antebraço agarrava a caixa. Apenas seus pés para equilibra-los quando o ônibus de supetão dava daquelas curvas de esparramar as batatas de uma sacola de feira. A moça oscilava em sorriso e uma cara fechada. Parecia programado. Ela sorria todas as vezes que a menina a olhava nos olhos. Enquanto não se olhavam, seu semblante era sério. A criança tentava colocar a mão pra fora pela janela do ônibus e a mãe puxava de volta. Ela teimosa largava da janela e apertava a calda do gato, a mãe reclamava mais uma vez. A menina dava um sorriso sapeca olhando para os passageiros, se exibindo, e a mãe baixava a cabeça e sorria timidamente.
A mãe, às vezes parecia preocupada com alguma coisa, em alguns momentos a menina brincava com o gato como um brinquedo e a mãe parecia estar bem longe. Como ela não reclamou, a menina deixou o bichano em paz. Tentando mais uma vez chamar a atenção de sua mãe, a menina tenta escorregar por entre seus braços. A mãe a puxa de volta. – Fique quieta! – Ela não faz nenhum som, mas dá pra ler em seus lábios. Ela é tímida e tenta ser discreta. Enquanto mãe e filha dialogam com o olhar, o gatinho tenta fugir da caixa. Ele sobe na borda direita, o ônibus dobra a esquina, ele escorrega e volta a tentar do lado esquerdo. Quando vai conseguindo sair, a mãe puxa-o pra dentro novamente. A menina agora parece ter se acalmado e fica contando moranguinhos estampados em seu pijama enquanto sua mãe fica pensativa e o gatinho descansa na caixa. Quando estou prestes a descer do ônibus, como um presente eu ganho uma imagem linda que não consigo esquecer, e é como se eu pudesse ver quando eu quero. A mãe, a criança e o gato, olham quase que de forma sincronizada para a mesma direção, para o fundo do ônibus, em uma linha quase reta. Os olhos da mãe em cima, os da menina paralelamente abaixo e os do gato caprichosamente na mesma linha. Todos parecem ver um homem que trabalhava na construção de um prédio no centro da cidade, com uma roupa impecavelmente branca, calça e camisa de mangas longas. De diferente, apenas um capacete de obra quebrado na cabeça, e um sorriso que eu mesmo criei na minha mente pra não ficar tão triste e que acabou fazendo parte desse quadro que acabo de pintar, ninguém vê, mais ele está lá pintado. Esse era um homem trabalhador e honesto que vivia pra sustentar sua família. A mulher, a menina e o gatinho. 



Por:  Erik Kleiver

terça-feira, 28 de agosto de 2012

George Méliès - O pai dos efeitos especiais


Méliès nasceu na frança em 8 de dezembro de 1891. No início foi um famoso ilusionista, até que o encontro com o mundo cinematográfico o transformaria em um dos maiores nomes do cinema. Ele produziu mais de 500 filmes e construiu o primeiro estúdio cinematográfico da Europa.  



Seu encontro com o mundo da cinematografia se deu na primeira exibição pública de um filme. Os irmãos Lumiere, considerados como os criadores do cinema, organizaram e fizeram a exibição de algumas imagens no então Grand Café em Paris.  



Louis e Auguste Lumiere

O pai dos Lumiere possuía uma fábrica de filmes fotográficos. Os irmãos construíram uma câmera filmadora e foram registrar o cotidiano, que pra época era algo fantástico. Abaixo veremos dois dos seus principais trabalhos:  




  • Os Lumiere posicionaram a câmera de frente a porta de saída da fábrica e registraram o que vocês podem ver, apenas as pessoas caminhando para fora. Muito simples. Mas pra época era algo surpreendente a possibilidade de registra para sempre uma ação ou movimento.



  • Mais uma vez com a câmera parada eles registraram outra ação. Um trem chegando na ferrovia. A exibição desse filme foi um fato curioso. Todos os acentos da sala onde seriam exibidos os filmes foram ocupados, mas quando a pessoas viram aquele trem se aproximando, naquela grande tela, dizem que não sobrou ninguém, todos saíram correndo achando que o trem era de verdade. Outra história diz que as pessoas apenas gritaram. Acho mais interessante e engraçado acreditar no fato delas terem corrido. Acho mais cinematográfico.





George Méliès foi um dos que presenciaram esse acontecimento do trem. Ele ficou deslumbrado com o que viu e tratou de pedir para que os irmãos Lumiere lhe vendesse uma câmera daquelas. Eles não aceitaram a idéia dizendo que não teria futuro, e que não passaria  apenas de uma coisa que registrava o real e o histórico e que logo ficaria obsoleto e ninguém mais se interessaria.
Méliès não desistiu e criou sua própria câmera. Ele pensava em usar esse equipamento para incrementar suas mágicas. Começou a fazer filmes e foi se aperfeiçoando. Foi o primeiro a usar a trucagem, efeitos como stop-action ou stop-motion, entre outros. Ele também foi precussor na ideia do filme colorido, de forma engenhosa e artesanal ele mesmo pintou alguns dos seus trabalhos.



Imagem do filme, A viagem a lua.



Abaixo indicamos alguns dos seus belos e surpreendentes trabalhos, inclusive o clássico, A viagem a lua:  



























Infelizmente, Méliès faleceu sem o reconhecimento devido. Por decorrência da Primeira Guerra Mundial alguns teatros foram fechados, inclusive o seu. Ele ficou desacreditado e a história diz que suas obras foram vendidas para fábricas de celulóide para fabricação de sapatos para soldados. Revoltado, ele vendeu o resto de suas obras para uma fábrica de esmaltes. George Méliès morreu falido e sem sucesso.


Sugerimos o filme, A invenção de Hugo Cabret, dirigido por Martin Scorsese, que faz uma linda homenagem ao cinematograficamente eterno George Méliès.

Abaixo, o trailer do filme:





Você pode baixar no Filmes Hunter.





Postagem:  Erik Kleiver


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Fim dos tempos


O tempo que corre é o mesmo que para
Para o que quero fazer e para o que eu quero ser.
Não volta o que eu fui e nem pula do precipício.
Ah se ele soubesse que mata!
E se ficasse preso ao vento que movimenta meu corpo e nunca me encontrasse no processo de translação.
O meu pé que ele leva por cima da areia e do asfalto, nunca o toca com a mesma pele. Nunca sou o mesmo.
Cascas e cascos, que viram areia e asfalto para os outros pisarem.
Que um dia irá tampar meu rosto, prender minhas mãos por cima dos olhos, quando meus joelhos atrofiarem sem poder dobrá-los por falta de espaço em minha cama. Mas tudo isso sem medo. O futuro claustrofóbico implacável que não me deixa tranquilo há de me deixar em paz, como um sincero abraço de um amigo.


Por: Erik Kleiver