segunda-feira, 14 de maio de 2012

Contos mal contados #5

A morte prematura
Por: Juliana Carla S. Carvalho

2142, quinta feira, dia 22 de fevereiro. 23:55.

Era uma estrada de terra seca e árvores retorcidas que pareciam dançar ao som arrepiante do vento. As sombras das árvores produzidas pela lua, eram como se desejassem arrancar os espíritos dos viajantes com suas garras, para o mais profundo abismo da escuridão.
Nessas estradas de terra, rumo à Campina, fazia tanto frio como Fernanda nunca tinha sentindo antes. Sentiu um calafrio como se a morte estivesse por perto e acabado de tocá-la.
Na mesma hora pediu para que Anderson parasse. Estavam de viajem por dois dias. Começou a sentir febre e a suar frio. O esposo se preocupou, afinal, Fernanda estava no quinto mês de gestação.
Na estrada não passava ninguém e o frio apertava cada vez mais. Um pouco mais adiante avista uma luminosidade. Anderson fez o velho cavalo puxar a carroça novamente, desta vez, bem mais rápido para conseguir chegar até a porta do que parecia uma casinha de pau a pique. Já passavam de 00:05 da noite quando ele bate e grita por ajuda, mas Fernanda desmaia antes que alguém possa responder.

O sol já estava alto no céu, tão quente quanto ao meio dia. Um velho com seu chapéu de palha que escondia o seu rosto, montava em um asno. Tinha a pele castigada pelo sol, mas já estava velho demais para se preocupar com isso. Não olhava para os lados, já estava acostumado com a paisagem seca e com as poucas árvores retorcidas que ainda suportam o clima e as chuvas ácidas. Ele parecia que não havia lugar nenhum para ir, apenas seguia calmamente com seu velho asno que a muito lhe servia.
A viagem estava tranquila, até o animal de repente parar. O velho finalmente olha para frente, deixando que o sol iluminasse o seu rosto. Ele avistava uma carroça, abandonada no meio da estrada de terra. Franziu os cenhos e bateu levemente as pernas na barriga do asno, para que ele se aproximasse. Pôde ver um homem jovem, caído ao lado da carroça, mas o curioso era ele estar com um dos punhos fechados, tocando em uma árvore, como se fosse bater nela.
O velho desce do animal e se aproxima do homem que estava de bruços no chão. Toca no ombro, mas o homem nada responde, então faz certa força para virá-lo. E o que vê, é um rosto coberto de larvas que passavam livremente por sua boca, nariz e olhos. Mas em sua mão, estava uma aldraba.


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