Soldado Vermelho
09
de Júlio, 06:01h
Encontro-me
agora em meio a algo que uma das melhores saídas seria a morte, algo em que
lutamos as cegas como peões de um tabuleiro de xadrez, apesar de sermos a
maioria... Só temos uma escolha: seguir em frente.
Lutamos
pela ganância de nossos superiores, recebemos ordens de pessoas que só sabemos
que existem por causa de assinaturas em papeis impressos. Deixamos pais, esposa,
filhos. Para saciar a sede de poder dos nossos “reis”. Nas minhas próximas
folhas, relatarei algo que não é um conto de fadas, nem cenas distorcidas que
vemos nos filmes hollywoodianos. Algo que existe desde os primórdios, que às
vezes sabemos que não resultará em nada, mas mesmo assim fazemos, só para
alimentar nosso ego e provar nossa superioridade: a guerra.
Quando
embarcamos nessa jornada, vemos jovens vigorosos e animados, jovens que
procuram mostrar do que são capazes. Vemos também aqueles arrependidos,
forçados a entrar nesse grande labirinto de ruínas, fogo e desgraça.
Se
alguém diz que hoje “o dia foi um inferno” foi porque nunca viu como é a guerra
de verdade. Às vezes acordamos no meio da noite, escutando gemidos e gritos de
soldados apavorados com pesadelos, tiro, fome... Frio. E às vezes, nem
acordamos, nunca mais.
Muitos
aqui perdem a fé, a humanidade, a alma. Aqui é visto o que pensávamos que nunca
iríamos ver em todas nossas vidas. E não existem pausas. Todas elas aparecem de
vez, como um trem desgovernado carregado de caos. Mas em um de seus vagões,
apenas um. Há esperança. Algo que alguns a esquecem, e nem sabem mais o
significado. Esperança esta de um dia voltar pra casa, rever os parentes, comer
como um homem, dormir como um homem... Viver como um homem.
Qualquer
dia pode ser o ultimo dia, qualquer dia uma bala sem destino de um homem
destinado pode completar seu objetivo.
Balas
cortam o ar como estrelas cadentes à noite, mas estas sentimos seu calor,
ouvimos seu barulho e sua cor tão viva como nunca, e o nosso principal desejo é
que não atenda o desejo de quem a libertou. A cada passo que damos, encontramos
um amigo, às vezes sorrindo pra você, disfarçando o medo que o cerca. Ou
liberto, pois a única forma de se ver livre de uma guerra é quando morremos.
Elas nunca acabam. Elas apenas descansam e esperam o momento certo de voltar.
Bombas
estouram em seus ouvidos como o milho de pipoca, por um momento achas que
acabou, mas depois que recobra a consciência vê que ainda está no mesmo inferno
de antes. Só que agora surdo, cego e cada vez mais sem rumo.
Quando
perdemos nossa esperança, esvai-se com ela nossa crença. O Deus que nos
protegia arredou-se como um cão covarde, o nosso deus é o rifle que empunhamos
e nossa fé, a munição. Mas quando nosso deus escorrega de nossas mãos ou quando
nossa fé acaba, somos apenas um herege sem salvação. Esperando apenas que a
morte nos leve.
Perdemos
nossas expressões com o tempo, alegria e tristeza são as mesmas. Para alguns a
insanidade não tarda a chegar, e a saudade e esperança de rever nossa família
são cobertas pelos rostos de amigos e inimigos mortos em batalha. Esquecemos
que somos humanos.
A
guerra amigos é uma sugadora de almas, destruidora de sonhos e amor. Onde os
fracos e fortes perecem pela mesma causa, e seus corpos apodrecem do mesmo
jeito. E na maioria das vezes seus nomes só são lembrados pelos parentes, após
derramar suas lagrimas durante a ceia, quando olharem para seu espaço vazio da
mesa e pensar em vão que um dia estarás ali novamente. Passasse anos aguardando
ansiosos pelo seu retorno, enquanto os mais realistas só querem a noticia de
como você morreu, e se seu corpo chegará em casa, para te darem o ultimo abraço
e te sepultar com o devido respeito.
São
06h13min da manhã, já posso ouvir os barulhos de bombas e aviões carregados de
explosivos, estou ferido. E creio que serei levado para casa assim como os
outros sem serventia, acho que encontrei o vagão que faltava, estou esperançoso
de rever minha família. Então, deixo aqui minhas ultimas palavras nesse lugar
esquecido por Deus.
Será
que a guerra é o único meio de ter a paz? Será que é destruindo que se cria? Sim,
diriam nossos “reis” após nos mandarem seguir em frente no tabuleiro, pois a
única forma de vencer o jogo é sacrificando seus “peões” e cortando o mal pela
raíz, com um belo check-mat. Mas, o
que diria eu?
Aqui
os passarinhos não cantam como no jardim de minha casa, mas isso há de
acontecer em breve. Só espero que o café de
minha mãe ainda tenha o mesmo cheiro de antes, e esperaria que um dia
esquecesse isso tudo, mas sei que esses fantasmas vão me perturbar durante anos
e anos, até o dia de minha mor... – com um barulho ensurdecedor a porta da
frente é arrancada, homens fardados começam a entrar rapidamente. Todos
empunhavam suas armas com o cano quente logo após suas rajadas. Caminhavam a
procura de sobreviventes para terminar a execução, em seguida, só encontram um
homem caído com o rosto em sua própria poça de sangue, ele segurava uma caneta
e ao seu lado uma carta que agora manchara. - Ein weiterer Mann starb träumen! – disse o soldado inimigo.
Por: Kadu Castro
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