quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Contos mal contados #8


O canto dos pássaros

De manhã cedo, no auge do canto dos pássaros, o homem acorda para ir ao trabalho, menino toma o café da manhã, a mãe se apronta, leva o filho á escola e também vai trabalhar. E os pássaros cantam.

Os pássaros parecem não cansar. Um percorre toda a extensão fina do fio de eletricidade que liga um poste ao outro, dando pulinho. Depois voa, mergulhando entre as folhas de um oitizeiro. Sai do outro lado com muitos outros pássaros. Fazem uma linda imagem, como se o oitizeiro expelisse com toda força milhares de seres voadores.

Eles voam e alguns pousam em um fio. Uns de frente, outros de costas. Não param de cantar.
De repente a música para. Todos ficam para o mesmo lado e fitam os olhos quase que de forma sincronizada para o ultimo pássaro lá do canto. Todos percebem que apenas ele permanecia calado enquanto todos os outros cantavam.
Eles voltam a cantar novamente, dessa vez mais baixinho, olhando para ele. Esperando pelo menos um ré maior sair do bico  dele. Ele só olha pro rosto dos que cantava, volta a sua posição e permanece em silêncio.

Do seu lado está seu amigo, Tomé. Que pergunta: - O que houve Lucas? Por que permaneces calado?  - Pergunta e olha para os outros , que os despreza e saem voando. – Estás vendo? – Continua Tomé – Isso não é normal.
Não precisa se preocupar – Lucas se vira pra Tomé, torna a virar o rosto, salta do fio, voa em direção ao oitizeiro e mergulha entre as folhas.

Tomé sem entender, o segue.
Eles estão cobertos por folhas, um facho de luz clareia apenas as costas de Lucas, enquanto todo o seu corpo fica escuro.  Tomé se aproxima, toca o seu ombro, mas ele não demonstra nenhuma reação. – O que aconteceu que você não canta mais? – Pergunta com uma voz de compreensão , pronto a ajudar. – Venho percebendo algo estranho em você já faz algum tempo, e essa coisa de você parar de cantar de vez assusta não só a mim mas também os outros, você deve ter percebido. – Tomé aperta o ombro de Lucas e pergunta: - Pode me dizer. Por que paraste de cantar?
Lucas olha nos seus olhos e fala: - Eles não nos ouvem mais Tomé ! – com uma voz desesperançada – Pra que continuarei a cantar se eles nos abafam com o barulho dos carros? Você vê aquele caminhão que passa todos os dias por aqui que além de nos deixar mudos, ainda enchem nossa cara com a poluição?  Está ouvindo esse som alto?  -  Pergunta com um rosto enojado – Que músicas são essas que eles ouvem? Não tenho mais Tomé. Todo o meu esforço agora, acho que não serve mais. Não sinto mais prazer nisso. Me desculpe mas não cantarei mais.






Por: Erik Kleiver

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